segunda-feira, 22 de junho de 2009

PAPILOMA HUMANO: VÍRUS CAUSADOR DE CANCRO



Prof.ª Doutora Maria Carmo Fonseca

Hoje sabemos que existem vários tipos de vírus capazes de provocar cancro no ser humano. No entanto, este é um conhecimento recente. A título de exemplo, foi na década de 1990 que um conjunto de múltiplos estudos científicos vieram definitivamente demonstrar que o vírus do Papiloma Humano é o causador do cancro do colo do útero.


Quem pela primeira vez descobriu que o vírus do Papiloma Humano estava associado ao cancro do colo do útero foi um médico e investigador alemão chamado Harald zur Hausen, no início da década de 1980, mas a ideia foi inicialmente recebida com grande cepticismo pela comunidade científica internacional.

Passados quase 30 anos, o enorme valor da descoberta de zur Hausen foi justamente reconhecido através da atribuição do Prémio Nobel da Medicina de 2008.


O que são vírus?

Vírus são parasitas intracelulares desprovidos de vida própria. Os vírus só se reproduzem quando infectam uma célula. Cada tipo de vírus tem o seu próprio hospedeiro. Assim, existem vírus que infectam bactérias, outros que infectam plantas e outros ainda que infectam animais, entre os quais o homem.


Quando um vírus infecta uma célula humana

Assim que um vírus penetra numa célula provoca um desvio no normal funcionamento celular. O vírus é como um assaltante que obriga a célula a produzir novos vírus. Uma célula infectada pode dar origem a milhares de novos vírus até atingir um estado de exaustão e morrer. Nalguns casos, a célula infectada comete suicídio, tentando assim travar a propagação do vírus. Noutros casos, mais raros, a célula infectada transforma-se numa célula cancerosa.

O cancro não é uma única doença, mas sim um grupo de várias doenças caracterizadas por um aumento descontrolado do número de células. As células cancerosas proliferam de uma forma anormal, acabando por invadir e interferir com o funcionamento dos tecidos vizinhos. Todos os cancros são causados por alterações genéticas que vão ocorrendo ao longo da vida de um indivíduo. Algumas destas alterações acontecem espontaneamente, outras são causadas por factores do ambiente como, por exemplo, o fumo do tabaco, e outras ainda são causadas por vírus.

Os vírus são responsáveis por 15 a 20 por cento de todas as formas de cancro. Destes, o mais frequente é o cancro do colo do útero causado pelo vírus do Papiloma Humano.

Segue-se o cancro do fígado, provocado pelos vírus da Hepatite B e C, certos tipos de linfoma, causados pelo vírus de Epstein-Barr, a leucemia de células T do adulto, pelo vírus Linfotrópico de Células T Humanas, e o sarcoma de Kaposi causado pelo Vírus Herpes Humano tipo 8.

O cancro do colo de útero é o segundo cancro mais frequente na mulher, a seguir ao da mama. O cancro do colo do útero desenvolve-se sempre em mulheres infectadas pelo vírus do Papiloma Humano. No entanto, só algumas mulheres infectadas desenvolvem cancro.
Existem mais de cem tipos diferentes de Vírus do Papiloma Humano, dos quais cerca de 40 infectam as células dos órgãos genitais. Destes, há aproximadamente 15 tipos capazes de causar cancro. Assim, quando uma mulher está infectada, importa saber de que tipo de vírus se trata.

Para tal faz-se um teste de genotipagem do vírus, ou seja este teste permite diagnosticar não só a existência do vírus HPV, como também identificar o tipo de vírus em questão.


O vírus do Papiloma Humano

Os vírus do Papiloma Humano (VPH) que infectam os órgãos genitais classificam-se em vírus de baixo risco (por exemplo, VPH6 e VPH11) e vírus de alto risco (por exemplo, VPH16 e VPH18), consoante a sua capacidade para causar cancro.

Os vírus do Papiloma Humano que infectam os órgãos genitais são transmitidos por contacto sexual. Por esta razão, as mulheres são infectadas quando começam a ter uma vida sexual activa.

Aproximadamente 20 a 40 por cento das mulheres jovens sexualmente activas são infectadas pelo vírus. Na grande maioria dos casos, a infecção é debelada pelo sistema imunitário e passa completamente despercebida. Mais raramente, a infecção torna-se persistente. Na população mundial, aproximadamente uma em cada 10 mulheres está infectada de forma persistente pelo vírus, sendo a prevalência da infecção variável entre regiões. Exemplos extremos são a Espanha com uma prevalência de 1,4 por cento e a Nigéria com 25,6 por cento. As infecções persistentes dão origem a sinais clínicos facilmente detectados num exame médico. Para além do cancro do colo do útero, as infecções persistentes por vírus do Papiloma Humano de alto risco podem dar origem a cancros na vagina, vulva, pénis, ânus e boca.

Não existe, ainda, nenhum medicamento para tratar a infecção pelo Vírus do Papiloma Humano. Assim, as medidas mais eficazes para evitar o cancro do colo do útero são a abstinência sexual ou a vacinação antes de iniciar actividade sexual. Importa salientar que as vacinas actualmente disponíveis são dirigidas contra os vírus de tipo 16 e 18 (VPH16 e VPH18), em conjunto responsáveis por cerca de 70 por cento dos cancros do colo do útero. Portanto, a vacina não confere protecção total. Por outro lado, a vacina não ajuda as mulheres que já foram infectadas. Por esta razão, é muito importante continuar a fazer exames ginecológicos, tanto as mulheres que nunca tomaram a vacina como as que foram vacinadas. As recomendações internacionais apontam para vacinar aos 12 anos e fazer um exame ginecológico de 3 em 3 anos, a partir dos 25 anos de idade.
Como o VPH provoca cancro
O vírus penetra no epitélio do colo do útero através de fissuras traumáticas e infecta as células da camada mais profunda. Cerca de 90% destas infecções curam-se espontaneamente.
Nalguns casos, raros, a molécula de ácido desoxiribonucleico (ADN) do vírus penetra no genoma da célula infectada e vai, progressivamente, alterar o funcionamento dos genes humanos que controlam a proliferação celular. Em consequência, as células do colo do útero proliferam desordenadamente e invadem os tecidos vizinhos.
Em média, o cancro desenvolve-se 10 a 30 anos depois da infecção pelo vírus. Apenas cerca de 0,8% das infecções dão origem a cancro.

Campanha de Vacinação*

A Campanha de Vacinação Contra Infecções por Papilomavírus Humano (HPV), terá lugar de 27 de Abril a 2 de Maio nas farmácias aderentes. Esta iniciativa é um contributo das farmácias para a prevenção de infecções por HPV e para a luta contra o cancro do colo do útero no nosso País, o segundo tipo de cancro mais frequente na mulher em todo o mundo.

A vacina contra infecções por HPV faz parte do Plano Nacional de Vacinação (PN V), sendo administrada, por rotina, às raparigas que completam 13 anos no respectivo ano civil. Esta vacinação de rotina será acompanhada até 2011 por uma repescagem das raparigas que completem 17 anos, iniciando-se em 2009 com as raparigas nascidas em 1992. As jovens que não se vacinem no ano recomendado para si podem, ainda, iniciar o esquema até aos 18 anos de idade, inclusive.

Na farmácia, esta vacina pode ser dispensada e administrada a mulheres não abrangidas pelo PN V, ou seja, mulheres com 19 ou mais anos, desde que apresentem uma prescrição médica. Excepção para as jovens que completam 18 anos de idade em 2009 (nascidas em 1991) que, por não estarem abrangidas pelo PN V, podem também ser vacinadas na farmácia. Actualmente a vacina está indicada para mulheres até os 26 anos.

A vacina contra infecções por HPV pode adquirir-se nas farmácias mediante prescrição médica. Comprar a vacina e, de seguida, poder contar com a sua administração na farmácia representa mais conforto e conveniência para si. Também é uma garantia de que a temperatura ideal de conservação da vacina se mantém estável desde o momento da sua compra até à administração.

* Campanha disponível em farmácias aderentes.

Artigo elaborado pela Prof.ª Doutora Maria Carmo Fonseca
Directora do Instituto de Medicina Molecular e da Genomed - Diagnósticos de Medicina Molecular, S.A.


Fonte: FARMÁCIA SAÚDE - ANF

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