segunda-feira, 19 de novembro de 2007

CICLO DA MULHER

Madalena Barbosa
Seria utópico apontar, nas breves páginas que se seguem, as soluções para o tão vasto número de inquietações que, todos os dias, interpelam a mulher.Fica aqui uma pequena ajuda para que elas identifiquem e saibam resolver alguns dos problemas que podem encontrar ao longo da vida: desde a adolescência até para lá da menopausa.


Quando deixamos de ser crianças...
A adolescência é talvez a fase mais complicada da vida. Enquanto que uns deixam de ser crianças «à força», outros é «à força» que querem deixar de o ser. E, neste misto de querer e não querer, de saber e não saber, de sentir e não sentir, muitas mudanças físicas e psicológicas ocorrem. Deixa-se de admirar os brinquedos e passa-se a olhar para o próprio corpo que muda de dia para dia.
Tanto de novo a acontecer, sensações nunca antes experienciadas, dores vindas não se sabe bem de onde, pêlos que crescem, ancas que alargam, seios que afloram, a primeira menstruação e, entre tanta confusão, começa-se a ser mulher.
O início da puberdade, que marca o nascer da adolescência, caracteriza-se por várias mudanças internas e externas. «Embora em 20% dos casos a puberdade se inicie com o aparecimento dos pêlos púbicos, o desenvolvimento mamário, designado por telarca, é, habitualmente, o primeiro sinal da puberdade, ocorre por volta dos 10 anos e tem uma duração média de 4,5 anos», diz a Dr.ª Helena Leite, da Consulta de Ginecologia de Adolescentes, Serviço de Ginecologia da Maternidade Bissaya-Barreto (Coimbra).
Em geral, «dois anos após o início da telarca, dá-se a primeira menstruação ou menarca, cuja idade média é aos 12,8 anos, nos países ocidentais. Paralelamente, verifica-se o desenvolvimento da maturação sexual, caracterizada pela afirmação da identidade sexual», afirma a mesma ginecologista. De facto, a adolescência é, para muitos, a altura em que se inaugura a vida sexual e problemas decorrentes da falta de maturidade e informação podem ser «a pedra de toque» para actos irracionais e de desagradáveis consequências.
«Apesar de não existirem muitos estudos sobre a idade em que ocorre a primeira relação sexual, nos países ocidentais e em média, ocorre por volta dos 18 anos», revela a Dr.ª Joana Belo, também da Consulta de Ginecologia de Adolescentes da Maternidade Bissaya-Barreto.
Os problemas da sexualidade na adolescência
Mas por que razão as relações sexuais na adolescência podem ser problemáticas? Para além da gravidez precoce, que transforma a adolescente em mãe quando ela da mãe ainda precisa, existe a ameaça das infecções sexualmente transmissíveis (IST).
«Ainda que alguns estudos refiram um aumento do risco de prematuridade, de atraso do crescimento intra-uterino e de baixo peso do recém-nascido, nas grávidas adolescentes, estas consequências podem ser atribuídas às condições adversas em que a gravidez se desenrola, e não por ser não desejada», acredita Joana Belo, que sublinha:
«A tónica deve ser colocada nas possíveis consequências de ordem psicoafectiva, socioeconómica e educativa pelo que é ponto assente a necessidade de um acompanhamento psicológico e social sistemático da adolescente grávida. E para se reduzir o risco da gravidez não desejada, além da informação sobre os métodos contraceptivos adaptados à idade da adolescente, deverá ser-lhe garantida uma contracepção eficaz e gratuita.»
Outros problemas relacionados com o início precoce da actividade sexual são as infecções sexualmente transmissíveis (IST). «As adolescentes são mais vulneráveis a este tipo de infecções, o que se deve a factores biológicos (fragilidade da mucosa cervical) e a factores psicossociais (para além da imaturidade cognitiva, a tendência para o encobrimento da doença, aliada à falta de esclarecimento e informação)», avisa Joana Belo.
As IST com maior impacto a nível da saúde são as provocadas pelos vírus da imunodeficiência humana (VIH), do papiloma humano (VPH), os herpes simplex, as hepatites B e C, ou por bactérias como a sífilis. Por isso, é recomendável a realização sistemática de exames nos casos de suspeita de infecção e sempre que a adolescente refira corrimento vaginal, dores pélvicas ou qualquer outro sintoma que sugira infecção.
No caso de ser detectada alguma infecção, a actuação deverá ser imediata e eficaz no sentido de se prevenirem as sequelas que podem comprometer seriamente a fertilidade futura da adolescente. «A existência de uma queixa deve constituir uma oportunidade para esclarecer sobre o perigo destas doenças não tratadas e a forma de as prevenir através do uso sistemático do preservativo e promovendo a sexualidade responsável», recomenda a especialista.
A altura certa para ser mãe?
Transposta a fase da adolescência e alcançado o ambicionado estatuto de adulta, a mulher vai adquirindo preocupações diferentes e os problemas com que se depara são outros. É entre a adolescência e a menopausa que a mulher mais ambiciona ser mãe e só desse desejo são muitas as inquietações que podem resultar.
E as interrogações surgem: Será a altura certa? Para já ainda é cedo, mas depois não será demasiado tarde? Por que será que estou com dificuldade em engravidar? Estarei perante um problema de infertilidade?
A redução da fertilidade aumenta com o avançar da idade. Mas o cenário não está tão negro quanto se tem «pintado» nos últimos tempos: «85% a 90% dos casais consegue uma gravidez ao fim de um ano de tentativas e a taxa de infertilidade tem-se mantido idêntica nas três últimas décadas», assegura o Dr. Fernando Cirurgião, assistente hospitalar de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de S. Francisco Xavier (Lisboa).
Por outro lado, «o aparecimento da fertilização in vitro e outras técnicas de reprodução medicamente assistida vieram garantir que quase todos os casais possam vir a ter filhos», acredita o ginecologista. O problema da infertilidade pode estar relacionado com as alterações demográficas e sociais que fazem com que um número cada vez maior de mulheres procure a gravidez numa altura em que, biologicamente, a fertilidade se encontra em declínio.
As doenças inflamatórias pélvicas, provocadas pelas infecções do aparelho ginecológico «são uma causa frequente da infertilidade». Mas não existem razões para alarme, pois o seu tratamento «é relativamente simples e, desde que atempado, não trará consequências futuras», tranquiliza Fernando Cirurgião.
Os sintomas mais frequentes das infecções vaginais são: prurido, desconforto, dor na região genital externa, dor durante a relação sexual e corrimento vaginal anormal com cor e odor. «Existe uma ideia errada de que estas manifestações estão associadas a doenças sexualmente transmissíveis, o que, por vezes, leva a abordagens demasiado agressivas, como o recurso a antibióticos e duches vaginais, quando, na maioria dos casos, se devem a desequilíbrios da flora vaginal», avisa o mesmo especialista.
A melhor forma de prevenir estas infecções é o uso de produtos de higiene íntima com um PH ácido, idêntico ao da vagina e diferente do da pele que é neutro.
«O planeamento familiar e os métodos contraceptivos que permitem a um casal viver a sua sexualidade sem a preocupação de uma gravidez não planeada, adquirem especial ênfase na mulher», diz Fernando Cirurgião, ressalvando: «A decisão de ter um filho, de tão importante que é, deveria ser acompanhada de uma consulta pré-concepcional.»
Depois de engravidar são também muitos os cuidados a adoptar. «A avaliação prévia da mulher permite intervir activamente na correcção de condições que podem afectar negativamente a gravidez», aconselha o ginecologista.
O tabaco (principal causa de atraso no crescimento do feto), o álcool (causa importante de atraso mental e de malformações), o café (a grávida não deve beber mais do que duas chávenas por dia), as doenças preexistentes à gravidez, como a diabetes ou a hipertensão são hábitos que colocam em causa a saúde da mãe e do bebé, pelo que «é essencial um aconselhamento prévio acerca dos potenciais riscos e como os evitar».
É também nesta fase que a mulher está mais activa em termos sociais, profissionais e familiares e a TPM (tensão ou síndrome pré-menstrual – conjunto de sintomas psicológicos e físicos que antecedem o período menstrual - pode ter uma influência mais negativa. Segundo conta Fernando Cirurgião, «a TPM afecta 10% das mulheres em idade fértil».
E depois da menopausa?
Os anos passam e com eles o organismo vai perdendo algumas das suas funções. Faz parte do ciclo natural que um dia os ovários deixem de funcionar, o que se traduz pela ausência da menstruação. Não é uma doença, é tão só uma fase da vida da mulher – a menopausa – que não tem idade certa para aparecer, ocorrendo, geralmente, entre os 45 e os 55 anos.
«A menopausa resulta da falência da produção das hormonas femininas nos ovários, o que pode provocar várias perturbações» (ver caixa «Quando a menopausa chega»), afirma a Dr.ª Susana Coutinho, assistente hospitalar de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Dona Estefânia.
Neste contexto, pode surgir a necessidade de uma compensação hormonal que implica o acompanhamento médico regular. É a chamado tratamento hormonal de substituição (THS), muitas vezes aconselhado para os primeiros cinco a 10 anos após a menopausa (geralmente até aos 60/65 anos).
Antes de iniciar o THS, devem ser feitos os exames de rotina referidos na caixa «Exames essenciais após a menopausa». Este tratamento «deve ser sempre individualizado, pois as hormonas de substituição são medicamentos que devem ser adaptados e escolhidos para cada mulher, durante um período que, caso a caso, pode variar», salienta Susana Coutinho.
Com o avançar da idade, as mulheres ficam mais susceptíveis ao aparecimento de tumores, alguns deles cancros (os mais frequentes no período pós-menopausa são os da mama e os do útero). Assim sendo, a vigilância ginecológica e os exames de rotina assumem particular relevância nesta fase da vida da mulher e devem ser feitos a cada um ou dois anos. O aparecimento de alguns sintomas indica a necessidade de procurar ajuda especializada (ver caixa «Sinais para visitar o médico»).
A incontinência urinária e os prolapsos vaginais (descida dos órgãos pélvicos através da vagina) são também problemas frequentes que afectam negativamente a qualidade de vida e a auto-estima da mulher depois da menopausa.
«A prevalência da incontinência urinária feminina está estimada em 30% acima dos 60 anos e foi calculado que a mulher corre um risco de 11% de ser operada por causa destes problemas ao longo da vida. Mas, apesar do grande incómodo causado, muitas mulheres nunca chegam a procurar auxílio», constata Susana Coutinho.
O tratamento da incontinência e dos prolapsos «consegue-se através de modificações no o estilo de vida, de tratamentos medicamentosos, de terapêuticas de reabilitação do pavimento pélvico, do uso de dispositivos vaginais temporários ou da cirurgia reparadora», assegura a ginecologista. Por tudo isto e muito mais, o acompanhamento médico periódico é essencial nos anos que sucedem a menopausa e a autovigilância impõe-se como um hábito que a mulher deve adquirir desde tenra idade. Tudo em prol de uma vida constituída por etapas naturais, que devem ser encaradas da forma mais saudável.
Métodos contraceptivos na adolescência
Dupla contracepção – preservativo associado à pílula: método ideal;
Pílula: o método mais popular tem alta eficácia no controlo do ciclo e efeitos terapêuticos a nível da acne e das dores menstruais;
Implante subcutâneo: indicado para as adolescentes mais jovens e sempre que se suspeite que o risco de esquecimento possa ser frequente;
Preservativo: deve ser sempre associado à pílula para protecção contra as IST;
Pílula do dia seguinte: não é recomendável como método contraceptivo. É uma medida de recurso com menos impactos nocivos que o aborto, quer em termos de fertilidade futura, quer a nível psicológico e económico.
Outros problemas da «fase crítica»
– Ciclos menstruais irregulares: podem verificar-se até quatro anos após a menarca. Na maioria dos casos, a vigilância e a tranquilização são suficientes para resolver o problema.
– Dismenorreia ou menstruação dolorosa: tratamento através de anti-inflamatórios não esteróides, que deverão ser tomados o mais precocemente possível e mantidos durante os dois primeiros dias da menstruação. Se não houver resposta, aconselha-se a pílula.
– Amenorreia ou ausência de menstruação: terá de haver um acompanhamento médico para definição das terapêuticas a efectuar.
– Acne e desenvolvimento piloso excessivo: requerem avaliação hormonal e imagiológica.
– Assimetria, hipertrofia mamária e nódulos mamários: podem implicar uma abordagem cirúrgica.
– Alterações do peso: podem ter repercussões ao nível da auto-estima e ser um motivo para interrupção da toma da pílula.
– Perturbações do comportamento alimentar, como a anorexia nervosa. Estes casos devem ser orientados para a consulta de Pedopsiquiatria.
Métodos contraceptivos na fase adulta
1 - Pílula contraceptiva: pode constituir a melhor opção até à menopausa, desde que não existam contra-indicações médicas ao seu uso.
Benefícios para além da contracepção:
A) Regularização dos ciclos menstruais;
B) Diminuição do fluxo menstrual, redução das dores menstruais;
C) Melhoria tensão pré-menstrual (TPM);
D) Prevenção do cancro do útero e do ovário, sendo a sua incidência tanto mais reduzida quanto mais prolongada for a toma da pílula.
2 - Dispositivo intra-uterino (DIU): opção a considerar na mulher que já teve filhos e pretende uma contracepção a médio/longo prazo, já que a eficácia do DIU se prolonga por cinco anos.
3 - Laqueação de trompas: quando não se desejam mais filhos. Resulta de uma cirurgia que faz a interrupção das trompas uterinas, impedindo o encontro entre o óvulo e o espermatozóide. É um método definitivo e irreversível.Não se preocupe, é só a TPM!Na presença destes sintomas antes da menstruação, não se alarme.
Eles passam… e voltam, mês após mês, sem efeitos de maior:
– Pensamentos autodepreciativos;
– Ansiedade, tensão, nervosismo, excitação;
– Fraqueza afectiva, tristeza repentina, choro fácil, sentimento de rejeição;
– Irritabilidade persistente, aumento dos conflitos interpessoais;
– Diminuição do interesse pelas actividades habituais;
– Dificuldade de concentração;
– Cansaço, fadiga fácil, falta de energia;
– Acentuada alteração do apetite;
– Distúrbios no sono;
– Inchaço e/ou sensibilidade mamária aumentada;
– Dor de cabeça;
– Dores musculares;
– Ganho de peso ou sensação de inchaço.
Sinais para visitar o médico
– Perda de sangue anormal pela vagina;
– Dores pélvicas;
– Aumento do volume abdominal;
– Corrimento aumentado ou infecções vaginais repetidas;
– Alterações na pele dos seios;
– Escorrência mamilar;
– Nódulo detectado por autopalpação da mama.
Quando a menopausa chega...
– Ondas de calor ou afrontamentos;
– Suores nocturnos;
– Insónia;
– Alterações no humor e Irritabilidade;
– Secura vaginal;
– Dor durante o acto sexual;
– Aumento de peso;
– Queixas osteoarticulares.

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