quarta-feira, 10 de junho de 2009

AS VÁRIAS FACES DA HEPATITE





Hepatites há-as causadas por bactérias e por vírus, mas também pelo álcool, por medicamentos e até pelo próprio sistema imunitário: mas, causas à parte, quem sofre é o fígado.





O fígado é a principal vítima das diversas hepatites: todas atacam este órgão complexo em que acontecem reacções químicas vitais para o organismo. Mas nem todas as hepatites são iguais - não só porque são causadas por diferentes agentes, como porque apresentam gravidades muito distintas, algumas ultrapassando-se apenas com repouso, outras implicando tratamentos prolongados ou mesmo um transplante. Casos há em que a vida está claramente em risco.



Doenças infecciosas, tanto podem ter na origem bactérias como vírus ou ainda o consumo de produtos tóxicos como o álcool mas também alguns medicamentos. E há ainda as hepatites auto-imunes, aquelas que resultam de uma perturbação do sistema imunitário, que começa a desenvolver anticorpos que atacam as células do fígado, em vez de as protegerem.


As mais comuns são, contudo, as virais, cujas seis faces até agora conhecidas a seguir se apresentam nos seus contornos essenciais.


A - Não se torna crónica

É mais frequente nos países menos desenvolvidos, tendo começado a diminuir em Portugal à medida que o saneamento básico se foi generalizado. Está associada a deficientes condições de higiene dado o seu modo principal de transmissão - através de água ou alimentos contaminados por dejectos.

As crianças e os adolescentes são mais vulneráveis, dado que o seu sistema imunitário não está ainda completamente desenvolvido. O vírus é absorvido no aparelho digestivo, multiplicando-se no fígado e inflamando-o.

Causada pelo vírus VBA, esta forma de hepatite é considerada uma doença aguda que se cura num curto espaço de tempo sem necessidade de internamento hospitalar ou de um tratamento específico. Repouso moderado e uma alimentação rica em calorias e pobre em gorduras é a forma de recuperar.

Em 90 por cento dos casos é assintomática, o mesmo é dizer que se manifesta sem sintomas específicos. Porém, eles existem - mal-estar, fadiga, náusea, vómitos, desconforto abdominal sob as costelas direitas, febre na fase inicial, urina muito escura, fezes descoradas, amarelecimento dos olhos.


Vinte a 40 dias é quanto o vírus leva a incubar, sendo que ao fim de três semanas, em regra, o doente já está recuperado. Normalmente, o vírus desaparece sem deixar vestígios, surgindo anticorpos protectores que impedem nova infecção. Raramente é fatal, embora em adultos afectados por uma doença hepática crónica - originada por outro vírus ou pelo consumo excessivo de álcool - possa provocar a falência do fígado, conhecida por hepatite fulminante. Contudo, o risco é muito baixo - de um para mil ou mesmo para 10 mil.

Contra o VHA existe uma vacina, descoberta em 1991, e que garante protecção por, pelo menos, dez anos. Desde Outubro último que pode ser administrada na farmácia, estando disponíveis várias apresentações da vacina - uma que oferece protecção apenas contra a hepatite A e outra combinada, que também protege contra a B. Uma terceira variante conjuga a imunização contra a hepatite A e a febre tifóide.


B - A mais perigosa

É causada pelo VHB, estimando-se que em Portugal existam cerca de 120 mil a 150 mil portadores crónicos. É de todas as hepatites a mais perigosa, dado o elevado grau de infecciosidade do vírus - 50 a 100 vezes mais do que o da sida.

É através do contacto com o sangue e os fluidos corporais de uma pessoas infectada que se transmite o vírus da hepatite B, à semelhança do que acontece com o da sida. Aliás, as duas doenças andam frequentemente de mãos dadas. Uma outra forma de contágio, também comum às duas doenças, é a transmissão de mãe para filho durante o parto. Nos países em desenvolvimento esta é, aliás, a forma mais grave de transmissão, com a maioria dos infectados a contrair o vírus durante a infância.

Já nos países industrializados, em que se inclui o nosso, o vírus é transmitido sobretudo aos jovens adultos por via sexual e através da partilha de seringas entre os utilizadores de drogas injectáveis.

Os diferentes cenários têm uma explicação: é que nos países desenvolvidos, as crianças são protegidas pela vacina, cuja eficácia é de 95 por cento. A vacina contra a hepatite B faz mesmo parte de 116 programas nacionais de vacinação, entre eles o português. É administrada em três doses, sendo também possível a vacinação na farmácia a maiores de 18 anos.

Na maioria das vezes, a infecção declara-se sem sintomas ou com queixas não específicas, como cansaço, desconforto abdominal sob as costelas direitas e dores nas articulações.


Num terço dos infectados, o vírus provoca hepatite aguda e um em cada mil pode ser vítima de hepatite fulminante. Em dez por cento dos casos, a doença torna-se crónica, uma situação mais frequente nos homens.




C - Ainda sem vacina

É conhecida como a "epidemia silenciosa" pela forma como o número de portadores crónicos tem aumentado em todo o mundo e pelo facto de os infectados poderem não apresentar qualquer sintoma, durante 10, 20 ou mesmo 30 anos, e sentir-se de perfeita saúde. Calcula-se que existam 170 milhões de portadores crónicos (cerca de três por cento da população mundial), dos quais nove milhões são europeus. Destes, entre 150 mil a 200 mil são portugueses, com Portugal a apresentar das mais altas taxas de contaminação pelo VHC. Embora seja um vírus que atinge 60 a 80 por cento dos toxicodependentes, todos os que foram submetidos a operações e/ou transfusões de sangue antes de 1992, os ex-combatentes e as mulheres que fizeram abortos devem fazer o rastreio.


Uma vez no organismo humano, este vírus pode levar até 150 dias a incubar, com a particularidade de, à semelhança do vírus da sida, ser capaz de se modificar e camuflar, o que dificulta uma resposta adequada do sistema imunitário. Só 25 a 30 por cento dos infectados apresentam sintomas da doença, os quais podem oscilar entre letargia, mal-estar geral e intestinal, febre, perda de apetite, intolerância ao álcool, icterícia e problemas de concentração. Muitas vezes são queixas muito parecidas com as de uma gripe.

Cerca de 20 por cento dos infectados recuperam espontaneamente, mas a maioria passa a sofrer de hepatite crónica. Destes, 20 por cento dos casos podem evoluir para cirrose ou cancro no fígado, uns em poucos anos, outros ao longo de décadas.


Esta é uma doença mais comum no sexo masculino e nos consumidores de álcool (que estimula a multiplicação do vírus e diminui as defesas imunitárias).

É principalmente por via sanguínea que se transmite o vírus da hepatite C - um corte ou uma pequena ferida é quanto basta, sendo frequente o contágio através da partilha de seringas. A transmissão por via sexual é rara, havendo ainda o risco de uma mãe infectar o filho durante o parto. Na ausência de uma vacina, o melhor é prevenir - deve, acima de tudo, evitar-se o contacto com sangue infectado, o que significa, por exemplo, não partilhar escovas de dentes, lâminas, tesouras, corta unhas ou outros objectos de uso pessoal.


D - À boleia da hepatite B

A inflamação do fígado causada pelo vírus VHD ocorre apenas em simultâneo com a acção de um outro vírus, o causador da hepatite B. O mesmo é dizer que a hepatite D só surge por co-infecção ou superinfecção, com 40 por cento dos portadores a desenvolverem cirrose.


Nos últimos anos, tem-se assistido nos países desenvolvidos a uma diminuição da hepatite D, que em Portugal é considerada rara. Transmite-se sobretudo a partir do sangue e seus derivados, bem como pelo contacto com seringas infectadas, o que explica a prevalência entre toxicodependentes e hemofílicos (que necessitam de transfusões dos factores sanguíneos em défice no seu organismo).

No caso de uma co-infecção (infecção simultânea pelos vírus B e D), a hepatite B pode ser severa ou mesmo fulminante, mas raramente evolui para uma forma crónica; a situação oposta ocorre com a superinfecção, que provoca hepatites crónicas em 80 por cento dos casos, dos quais 40 por cento acabam em cirrose.


E - Endémica nos trópicos

Em Portugal, como noutros países ditos industrializados, a infecção do fígado causada pelo vírus VHE é rara, mas nas regiões tropicais foi já responsável por graves epidemias.


Nas zonas em que é endémica, é de 33 por cento a taxa de mortalidade infantil causada pela hepatite E e de 20 por cento a taxa de mortalidade de mulheres grávidas, se contraírem o vírus no terceiro trimestre de gravidez.

Descoberta em 1980, incide sobretudo nos adultos entre os 15 e os 40 anos. Pode ser fulminante, mas quase sempre cura-se espontaneamente.


À falta de tratamento específico, devem evitar-se medicamentos que possam ser tóxicos para o fígado.


G - A mais jovem de todas

De facto, a hepatite G só foi descoberta em 1995, calculando-se que corresponda a 0,3 por cento das hepatites virais. Por ser recente, desconhecem-se ainda todas as formas de contágio possíveis, mas sabe-se que se transmite sobretudo por contacto sanguíneo - assim, poderão estar em risco nomeadamente as pessoas que partilham seringas e as que são sujeitas a transfusões de sangue.
Desconhecidas com exactidão são também as consequências de uma infecção pelo VHG, embora esteja já identificado que 90 a 100 por cento dos infectados se tornam portadores crónicos. Poderão, no entanto, nunca vir a sofrer de uma doença hepática.


Fonte: FARMÁCIA SAÚDE - ANF

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