segunda-feira, 29 de outubro de 2007

ASMA NA IDADE PRÉ-ESCOLAR

Data: 2007-02-15
Nas crianças entre os 2 e os 5 anos de idade, diagnosticar asma é, por vezes, difícil. Mas, uma vez definido, muito há a fazer para prevenir crises e melhorar a qualidade de vida da criança asmática.

O diagnóstico só chegou aos 3 anos. Mas antes a Carolina (na foto, na página amarela, acompanhada pela mãe) já tinha apresentado sinais e sintomas de que poderia sofrer de uma doença alérgica.
«Ela fazia muitas laringites. Quando tinha 2 anos chegou a ter equizemas cutâneos espalhados pelo corpo. Desde a parte de dentro dos pulsos, até ao pescoço e na parte de trás das pernas», lembra a mãe, Carla Mestre, 28 anos, adiantando:
«A cada episódio de laringite ia ao médico, que nunca diagnosticou nada, disse--me apenas que poderiam ser sintomas de uma alergia. Aconteceu o mesmo quando os equizemas surgiram. Nesta altura receitaram-me um corticoisteróide na forma de pomada».
Aos 3 anos a Carolina teve uma grande crise: a laringite voltou, acompanhada de tosse muito forte e falta de ar. O socorro procurado no hospital serviu apenas para curar este episódio, que se repetiu cerca de dois meses mais tarde.
«Até que fui ao Hospital Amadora--Sintra, a uma consulta de alergologia e, finalmente, foi diagnosticada asma à minha filha», recorda Carla Mestre.
Contudo, as crises não pararam totalmente com a medicação receitada. Até que a médica que diagnosticou a doença optou por outra solução terapêutica: o montelucaste. Carla Mestre não tem dúvidas:
«Vejo melhorias. A minha filha toma um comprimido por dia, à noite. É muito cómodo. Não ando com bombas comigo, fico descansada durante o dia e é como se fosse um rebuçado para ela.» «As crises agora são mais espaçadas e vejo esta medicação como uma prevenção para evitar que a minha filha tenha crises», explica Carla Mestre. Carolina concorda.
«Sabe a cereja e é bom», disse-nos, do alto dos seus 5 anos.
«Aconselho quem tem filhos pequenos a valorizar os sintomas. Quaisquer problemas que as crianças apresentem, qualquer coisa fora do normal deve ser visto por um médico. Porque quem convive com asmáticos conhece os sintomas. Mas quem nunca viu pode não valorizar os sinais de alarme», avisa esta mãe, de 28 anos, secretária de profissão.

Do diagnóstico ao tratamento
A asma, patologia crónica mais frequente na idade pediátrica, é uma doença respiratória obstrutiva crónica. Deve-se a uma inflamação das vias aéreas e à hiperreactividade brônquica. Caracteriza-se por tosse, pieira, sibilos e, por vezes, dificuldade respiratória. Mas «os sintomas são reversíveis de duas formas: ou espontaneamente ou através de meios terapêuticos», explica o Dr. Rosado Pinto, director do Serviço de Imunoalergologia do Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa.
De acordo com o estudo ISAAC (International Study of Asthma and Allergies in Childhood), cerca de 10% das crianças portuguesas até aos 7 anos já teve uma crise de asma.
E muitos destes meninos terão de utilizar, no seu dia-a-dia, medicamentos, frequentemente com técnica inalatória – nebulizador ou câmaras de expansão para situações de crise ou profilaxia.
«A colaboração dos pais é determinante e fundamental neste processo», lembra Rosado Pinto, acrescentando:
«Os pais têm de ser educados pelo médico. São eles que fazem o primeiro diagnóstico da gravidade da situação, percebem se os recursos em casa são suficientes para ajudar a criança. E é também através deles que chega a primeira intervenção terapêutica».
O médico adianta que «um bom acompanhamento em casa pode poupar muitas idas às urgências, noites mal dormidas e dias de cansaço às famílias» que convivem com a doença crónica mais frequente na idade pediátrica.
Se ao nível terapêutico não faltam armas cada vez mais eficazes, já fazer o diagnóstico numa criança pequena é algo de complicado: o quadro de sinais e sintomas que caracteriza a asma é muito semelhante ao de outras doenças respiratórias virais como, por exemplo, a bronquiolite. Testes laboratoriais e cutâneos ajudam a perceber se existe terreno alérgico.
No que toca às causas da doença, os médicos sabem bem quais são. Os factores que podem desencadear asma na criança «estão ligados à infecção, à alergia, ao esforço, estilo de vida, tabagismo, poluição exterior e à habitação, sendo muitas vezes de transmissão hereditária», explica Rosado Pinto.

Ácaros, os mais culpados
«A alergia aos ácaros do pó de casa começa mais cedo do que alergia aos pólens, além de que os primeiros alergénios estão em contacto com a criança ao longo do ano e os segundos apenas de forma sazonal, na Primavera», refere Rosado Pinto.
No período que antecede a entrada para a escola primária as crianças dormem oito horas e passam o dia no infantário, o que faz com que a maior parte das suas vidas se passe dentro de casa. Esta é uma das principais razões pelas quais os ácaros do pó de casa e também os fungos são responsáveis pela maior parte dos casos de asma nas crianças pequenas.
Assim, o especialista sublinha a importância da manutenção de uma boa higiene da casa de habitação como forma de evitar o despoletar, ou de agravar os sintomas da patologia, nomeadamente no quarto de dormir (ver caixa).
A própria estrutura do edifício de habitação deve preencher alguns requisitos importantes, tais como não ter infiltrações, humidade ou estar ventilada e climatizada de modo a não favorecer uma exposição a variações bruscas de temperatura entre o interior e o exterior. O alergologista não tem dúvidas quando afirma que «não construindo bem estamos a construir o nosso problema».
Mas as precauções não devem ser só tomadas em casa. «No infantário a doença é muitas vezes despoletada precocemente por contacto com as infecções.
A criança começa também mais cedo a ter sintomas alérgicos», sustenta Rosado Pinto.
Exercício faz bem e recomenda-se Quem acha que os meninos asmáticos não podem praticar exercício físico está redondamente enganado. «A natação é o melhor desporto para uma pessoa que sofre de asma porque é uma forma de reeducação respiratória», garante Rosado Pinto. Contudo, continua, «a qualidade da manutenção das piscinas portuguesas deixa frequentemente muito a desejar. Há excesso de cloro na água e variações de temperatura muito grandes entre a água e o exterior».
Além disso «não há muitas classes de natação dirigidas a asmáticos, algo que poderia em muito beneficiar estes doentes».
Se a natação e outros desportos aquáticos são recomendados pelos especialistas, já os desportos que envolvam contacto com pêlos de animais, como a equitação, são desaconselhados para este grupo de doentes.
Quanto às férias, as crianças mais pequenas devem ser acompanhadas pelos pais por causa da dependência relativamente aos progenitores. Há o risco de a criança ter uma crise longe da protecção familiar. A praia e a montanha são os melhores sítios para visitar. A primeira, em época de tempo seco, porque «a criança pode entrar em contacto com a água salgada, muito eficaz no alívio das infecções altas. Funciona como um anti-inflamatório».
Em caso de se preferirem as altitudes, que sejam acima dos 1000 metros, fronteira a partir da qual os ácaros muito dificilmente se desenvolvem.
«Na montanha o ar é mais puro», conclui Rosado Pinto.

Cuidados a ter no quarto dormir
Colchão: ao fim de dois anos já apresenta risco de acumulação excessiva de ácaros, pelo que «devem ser protegidos com capas especiais», avisa Rosado Pinto.
Quanto às almofadas, peluches e cobertores, aconselha-se a lavagem frequente com temperaturas acima dos 55 graus Celsius, fasquia a partir da qual os bichos são eliminados. Também toda a roupa da criança deve ser armazenada no Verão, isolada com plástico e lavada antes do Outono.

Malhas não são recomendáveis e a alcatifa deve ser proibida em casas com meninos asmáticos. Pelo sim, pelo não, é melhor não acumular livros, peluches ou colocar cortinados no quarto de dormir, que «deve ser arejado e ter uma boa exposição solar», diz Rosado Pinto.

Nova formulação facilita vida aos mais pequeninos
A grande prevalência da asma está situada na idade pré-escolar embora, contudo, a utilidade clínica das terapêuticas usadas contra a doença seja limitada devido a factores como dificuldade/frequência de administração e tolerabilidade a longo prazo. Por exemplo, crianças muito pequenas têm dificuldade em usar inaladores, o que faz com que a dose efectivamente recebida pelo doente seja variável.
Recentemente surgiu no mercado português uma nova forma de administração de uma terapêutica já usada na idade pediátrica: um comprimido mastigável tomado apenas uma vez por dia. A substância chama-se montelucaste e, com esta nova formulação, vem beneficiar as crianças em idade pré-escolar (até agora o medicamento só era utilizado a partir dos 6 anos).
Os estudos realizados em torno desta substância revelam que é muito eficaz, bem tolerada e praticamente sem efeitos adversos, além de que permite uma maior adesão à terapêutica.

O que são antileucotrienos?
Surgem em 1998 como uma nova classe de medicamentos com acção anti-inflamatória mais específica (não é um corticóide) e que oferecem a grande vantagem de serem administrados em comprimidos e, no caso do montelucaste, o mais utilizado em todo o mundo, apenas uma vez por dia.
Os antileucotrienos são medicamentos eficazes e bastante seguros, sendo praticamente desprovidos de efeitos acessórios. Favorecem uma boa adesão ao tratamento (de cerca de 80%, em comparação com 30% para as terapêuticas inaladas), dado serem administrados por via oral, e no caso do montelucaste de dispor de formas de apresentação adaptadas às idades pediátricas (comprimido mastigável).
Dados de 2003 sugerem que o montelucaste é também bastante eficaz na prevenção da pieira induzida por infecções virais, situação muito comum nas crianças em idade pré-escolar, vulgarmente conhecida como bronquiolite.

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