segunda-feira, 29 de outubro de 2007

CONCEPÇÃO DE SAÚDE DOS ENFERMEIROS

Autoras: Andreia Cassiano e Fátima de Abreu

Resumo

Na visão de Honoré (2002), “a saúde, característica principal da nossa vida, é um domínio de acção que diz respeito a todos nós. Mas o seu sentido é variável, aberto a múltiplas interpretações. É um domínio de acções desordenadas, confusas, por vezes contraditórias” (p.18). De facto, quando falamos em Saúde certamente todos julgamos saber do que se trata, porém, quando procuramos explicar o que queremos dizer quando nos referimos a esta, ou seja, quando queremos explicitar a nossa concepção sentimos dificuldade em o fazer.
Cada pessoa tem pois, uma forma própria de conceber Saúde, pelo que o enfermeiro como principal veículo de Saúde, deverá assumir uma posição que lhe permita abarcar diferentes pontos de vista sobre este conceito, por forma a permanecer sensível e disponível a todas as variações deste conceito, o que pressupõe o explicitar da sua própria concepção.
Neste contexto, achamos de grande utilidade e interesse, estudar A(s) concepção(ões) de Saúde dos Enfermeiros que trabalham nos Centros de Saúde do Concelho da Ribeira Brava, recorrendo a um estudo do tipo exploratório descritivo de nível I, utilizando-se preferencialmente o método quantitativo.
Com a realização deste trabalho pretendemos essencialmente conhecer as concepções de Saúde dos enfermeiros que trabalham nos Centros de Saúde deste Concelho e identificar as dimensões e perspectivas que prevalecem nas concepções de saúde dos enfermeiros. Para a sua realização, tivemos como pontos de referência autores tais como: Albuquerque e Oliveira (2002) Honoré (2002, 2004),) Araújo (2004) entre outros.
A colheita de dados fez-se a partir de um questionário por nós elaborado e que foi aplicado a uma população de 25 enfermeiros a exercer funções nos Centros de Saúde do Concelho da Ribeira Brava. Este consta de duas partes: a primeira constituída por oito questões referentes às variáveis de caracterização e a segunda parte constituída por uma pergunta aberta e 47 afirmações relativas à variável em estudo sob a forma de escala de Likert modificada compreendendo quatro graus de concordância. Tendo em conta a multidimensionalidade e dinamismo do conceito Saúde dividimos este em seis dimensões (Física, Psíquica, Cultural, Social/Relacional, Económico-política e Existencial) e duas perspectivas (Estática e Dinâmica).
Relativamente às variáveis de caracterização concluímos que os enfermeiros envolvidos no estudo são predominantemente do género feminino (96%) com uma média de idades de 35 anos, sendo que maioria tem entre 7 e 13 anos de serviço; 80% tem o grau de Licenciatura em Enfermagem e 56% são Enfermeiros Graduados. Dos inquiridos 60% nunca experiênciou uma situação de hospitalização por doença e 68% referiram estar a vivenciar uma situação de doença crónica num familiar/ pessoa significativa.
Através da análise de conteúdo das respostas relativas à questão Saúde fá-lo pensar em…, verificamos que a dimensão existencial foi a mais referida com 28,24% do total de referências, seguindo-se a dimensão física com 25,88%, a dimensão psíquica com 24,71%, a dimensão social/relacional com 18,82% e finalmente a dimensão cultural com apenas 2,35% das referências. Destaquemos que a dimensão económico-política não foi referida nenhuma vez pelos inquiridos.
Quanto aos dados obtidos relativos à variável em estudo, e a partir da análise da escala apuramos que foi também a dimensão existencial que obteve uma média de scores mais elevada, 15,4, seguindo-se a dimensão social/relacional com 15,29, a dimensão cultural com 14,85, a dimensão psíquica com 14,73, a dimensão económico-política com 13,15 e por último a dimensão física com 12,80. Constatamos pois que todas as dimensões por nós definidas obtiveram uma média de scores superior ao ponto médio (12,50).
Já no que se refere à saúde entendida como condição/estado ou como processo, destacou-se a perspectiva dinâmica (processo) com uma média de scores de 14,30, contrapondo com 11,25 na perspectiva estática (condição/estado)
Dos discursos dos nossos participantes emerge uma Concepção de Saúde positiva, onde se incorporam as diferentes dimensões, evidenciando-se uma tendência positiva em valorizar os aspectos adaptativos e subjectivos da Saúde, quebrando-se assim a tradição de perspectivar esta apenas como “ausência de doença”.

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